quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

bailarina

Estou perdendo a escrita. Vejo aos poucos as palavras me escapando do formato. Perco os argumentos, os artifícios, as idéias. Restam alguns conjuntos repetitivos de obrigações, quando o teclado me chama os dedos e, automático, escreve algo por mim.

Falo da vida como se fosse um verbo no passado, alguma coisa que costumava ser e hoje só me lembro. Falta tempo, falta apego, faltam laços e sobra essa mania de descrever o sentimentos dos outros que não sabem dizer.

O que houve com o tempo de ser fútil? Cade a leveza?

Eu tenho fobia de linha reta, tenho o corpo livre, o espírito solto. Sou do mundo, das novidades. Vou construindo fatos e lembranças a qualquer momento e lugar.

A vida lá fora gritou e eu não ouvi. Agora me movo a passos curtos, ziguezagueando por entre mudas de flores recentes que querem ser botão.

Eu quero ser flor, quero terra viva que se mova e me faça mover.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

atalho


Não me completo porque o que eu quero que seja meu já pertence aos outros, e porque todos já pertencem de alguma forma. Ninguém mais é virgem de alma. Carregam por aí paixões mal resolvidas, soluções mal apaixonadas, são metades vazias que não podem mais completar vida nenhuma.
Às vezes sinto que sou uma espécie de atalho, ajudo no caminho sem ser o ponto de chegada. Não sou destino, apenas distração. E acabo tendo um coração pisoteado que só pensa em se fechar para qualquer sentimento do mundo.

Eu tenho sono e já não consigo mais dormir. Eu tenho ânsia, não consigo mais comer. Eu tenho medo e já não quero mais. Meus pés perderam a função básica de equilibrar meu corpo na minha existência. Não posso dizer que a culpa é física porque fui eu quem sobrecarreguei minha mente e me tornei incapaz de responder sobriamente por um ''tudo bem?''. Isso pesa. É pesado saber que não está nada bem.

Percebo no espelho que meu sorriso não chega aos olhos.


*Música: Los Hermanos - Sapato Novo

terça-feira, 1 de novembro de 2011

não tão trágico

Fala demais, essa menina que não tem o que dizer. Ri demais e não acha graça de nada. Por que o mistério, se ninguém quer saber da sua ideologia barata de gente sem futuro?

Pelo jeito sou só idéias perdidas que se revelam sem me pedir licença e depois se tornam contradições quando amanhece.

Gasto um repertório inteiro de palavras. É como conhecer todo mundo e não conhecer ninguém. Alguém vê atrás disso?

Que venha qualquer coisa fútil alegrar meu figurino, que seja brilhante, que seja inesquecível. Às vezes sou apenas um sopro de qualquer coisa doce e enjoativa com o pior dos venenos, fazendo com que minha presença seja ao mesmo tempo marcante, confusa, passageira e duvidosa.

Parece que ninguém desconfia do que resta pela manhã e talvez seja melhor assim. Uma espécie de proteção, como se essa superficialidade fosse só um rascunho do que um dia vou ter coragem de moldar. E a única dúvida que fica é o que realmente importa.

Talvez essa busca seja o único motivo pra eu ainda deixar as coisas como estão. Me acostumo a ser cenário e quando ganho personagem, acho pedir demais escolher o que interpretar.


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

não faz sentido

Não consigo pertencer ou me adaptar. Falha minha. Meu único planejamento é não planejar. Porque o momento em que eu sei exatamente o que fazer ou onde ir, é o mesmo momento em que eu tento desesperadamente fazer o oposto. Talvez eu apenas goste de contrariar e negar o que parece ser certo.

Minha distância, que parece ser frieza, é apenas um mecanismo de defesa contra o que virá depois. Já me acostumei à desilusão. E a argumentação em favor do mundo não irá me ajudar. Estou desiludida de mim, dos meus impulsos, das minhas incapacidades, da minha falta de sentidos.

Não sou mais que mera alma a caminho de qualquer outro lugar. Não posso e não quero ser bagagem de ninguém. Estar presa na alfândega é um estado de espírito, e não um capricho meu.


terça-feira, 20 de setembro de 2011

o que ninguém vê


Eu queria que houvesse uma maneira de existir sem me pesar. Ser e não doer.

Sou fragmentos do não-ser mal escolhidos. Meus impulsos podados resultam em um animal pequeno e amoado, que se esconde e se protege sem nem saber do que.

Que esse vazio me dói é nítido, e se mostra nos olhos tristes que o sorriso não disfarça, na lágrima recorrente que a maquiagem não segura. Percebe-se no meu discurso a falha tentativa de expressar com voz o que só sei dizer no papel.

Mas tem mais que isso dentro de mim. Tem um cansaço que só quer um colo pra se desfazer. Minha cura é um abraço. Dois braços, um coração e o que mais vier junto.


sábado, 3 de setembro de 2011

127 horas

Assisti ao filme '127 horas' com receio que a cena da amputação do braço, filmada com realismo, não faria bem para o meu estômago. Mas não foi o corte que me deixou pensativa, e sim a amputação.

Penso que o corte faz parte da solução, e não do problema. São cinco minutos de racionalidade, bravura e dor extrema, mas é também um ato de libertação, a verdadeira parte feliz do filme, ainda que tenhamos dificuldade de aceitar que a felicidade pode ser dolorosa.

Lógico que é improvável que o que aconteceu no filme aconteça conosco também. Mas metaforicamente, em muitos momentos da vida conhecemos experiências de ficarmos com um pedaço de nós aprisionado, imóvel, apodrecendo, e impedindo a continuidade da vida. Provavelmente todos nós temos uma grande rocha para mover, e não conseguindo movê-la somos obrigados a uma amputação dramática, porém necessária.

Estou falando de amores paralisantes, profissões que não dão certo, laços que tivemos que abandonar, traumas que causaram um vazio. As mutilações escolhidas, o toco de braço que temos que deixar para trás afim de começarmos uma nova vida. De tudo que é nosso, mas que tem que deixar de ser, na marra, em troca da nossa sobrevivência emocional. E física também, já que a insatisfação é algo que debilita.

Às vezes o músculo está estendido, espichado, no limite: há um único nervo que nos mantém presos a algo que não nos serve mais, porém ainda nos pertence. Fazer o talho machuca, dói de dar vertigem, de fazer desmaiar. E dói mais ainda porque se sabe que é irreversível. Que a parir dali a vida começará com uma ausência.

Mas é isso ou morrer aprisionado por uma pedra que não vai se mover sozinha. O tempo não vai mudar a situação. Ninguém vai aparecer para salvar-nos. 127 horas, 720 horas, 8.640 horas que se transformam em anos.

Acho que todos temos um cânion pelo qual nos sentimos atraídos e do qual precisamos escapar para continuar vivendo.


*Música: Legião - Há Tempos




quarta-feira, 3 de agosto de 2011

solidão a dois

Nasci para poucos e morro por ninguém além de você. Me confundo em passos de dança invisíveis, enlaçando pernas e fazendo caras e bocas, querendo muito e gostando pouco. Não é insatisfação ou sofrimento, é só um tudo-ao-mesmo–tempo-agora que não respeita amor de menos, não aceita um gostar pouco e querer às vezes. Uma intensidade que não se conforma com noites únicas de começo, meio e fim. Estou aqui pela música, pela companhia, pra me encontrar.

Eu quero mais de cada coisa que a existência oferece.

Essa prisão, essa pele. Estou vazando pelos poros e parece que vou explodir. E se algum buraquinho entupir e eu não achar a saída? Meu corpo é muito pequeno e minha procura pela liberdade queima as beiradas. Minha alma vai escapando e se moldando. Se esconde, diminui pra não se mostrar além.

Os risos forçados que geram lágrimas no travesseiro, as danças vazias que geram um vazio ainda maior. A mentira que preenche de ar o que devia ser companhia. A amargura que cresce por coisas pequenas e afáveis dos que são capazes da felicidade.

Eu não quero nada impossível. Só quero realidade. Quero alma e vida de verdade.


terça-feira, 5 de julho de 2011

lembranças machucam, as boas, mais ainda


Existem desgraças que quase esperamos na vida. E existem momentos sombrios, que mudam tudo. Existe a minha vida antes da tragédia. Existe a minha vida agora. As duas têm dolorosamente pouco em comum.

Gostaria de poder contar que, através da tragédia, descobri algum princípio absoluto, desconhecido e impactante que eu pudesse transmitir. Não foi o que aconteceu.

Os clichês são todos válidos - o que realmente conta são as pessoas, a vida é preciosa, o materialismo é valorizado demais, as pequenas coisas são que importam, viva o momento -, e posso repeti-los exaustivamente. Você pode até ouvir, mas não vai internalizar o que eu disser. A tragédia é pessoal. Ela fica gravada na alma. A gente deixa de ser feliz. Mas se transforma numa pessoa melhor.

É isso que as pessoas não conseguem entender, a fragilidade do mundo. As feridas que uma guinada do destino é capaz de abrir. O poço de desespero que somos jogados por causa de um descuido qualquer. A irreparabilidade das coisas.

O tempo cura a maioria das feridas. As demais ficam escondidas atrás da porta do esquecimento.


domingo, 5 de junho de 2011

felizes os esquecidos...

Percebo o peso das coisas que vivi quando sinto em minha mente a presença de cada vez mais pensamentos aos quais eu não consigo dar vazão. Nunca tive facilidade na hora de traduzí-los em parágrafos e, certas vezes, quando finalmente absorvo um assunto, sou atropelada pela urgência de uma vida que sou obrigada a viver, do abrir ao fechar dos olhos.

Muitas vezes abandonei em branco o texto, pois olhava para dentro de mim e nada via senão a nebulosa sombra do vazio que ainda grita alto.

Desabafar por escrito, mesmo que antes para um destinatário ausente, é confortante, justamente quando não me servem mais as opiniões sinceras. Me ver imperfeita e incapaz, e escrever sobre isso, é o que me impede de desmoronar.

Escrever torna tudo real. E, por isso, as vezes prefiro fugir dos fatos, do futuro, das afirmações lógicas, mas injustas. Tem dores que não devem ser verbalizadas. Tem dias que não devem ser escritos.

Tem um dicionário inteiro de termos não existentes para falar sobre mim. Não sei o que, não sei o motivo, não sei como. Não me importo. Apenas sou, e isso deve bastar.

Todos os sentimentos sinceros só são sinceros pelo tamanho da verdade, e pela vontade de dizer sem motivo e mil vezes.


Musica: Pink Floyd - Take it Back

http://www.youtube.com/watch?v=7LYfUtRSZ5I


sábado, 30 de abril de 2011

tenho escrito menos...



... e sentido mais.

Eu vi nossos olhares se encontrando. E não apenas se encontrando, também se confortando, se completando, se desejando e se protegendo. Só pela cumplicidade dos nossos olhos, que deixaram de ser dois e se enlaçaram quatro. Eu soube então que nós não nos sentimos sozinhos e perdidos. E mesmo depois de um dia cheio e chato, tem uma certeza de afeto. Uma espera no fim do dia. Essa espera. Não a espera de uma vida toda sem saber o que buscar pra ser feliz.

E é isso que nós temos pra vida toda, algo além da rotina e de gente inventada com seus narizes perfeitos e cabelos arrumados. Uma fonte segura de amor que não depende das obrigações, das falas decoradas, dos scripts prontos. O frio na barriga, a anorexia que o amor dá na gente.

Temos o dormir tarde, e o acordar atrasado pra começar tudo de novo, só pra começar o dia nas nuvens. Temos algo certo como o olhar de fogo, a risada por nada, e a lágrima que cai na cumplicidade dividida. Algo errado que nos faz bem só por escapar do caminho evidente de sempre. Só sair do igual pra ter algo diferente. E tornar esse diferente comum só porque é bom estar perto.

Nada é mais infinito que o que se sente e não se vê.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Ain't no need to go outside

Vamos nos atrasar. Por causa da chuva, da preguiça, por causa da saudade. Tem um mundo todo de gente lá fora que pouco importa, e pouco se importa. Vamos nos atrasar por querer mais de nós dois.

Fica mais um pouco e me deixa fazer parte da sua vida. Quero o seu dia-a-dia na minha rotina e seu colo pra dormir. Quero nossos assuntos em pauta e nossa falta fazendo companhia. Eu quero mais que solidão a dois e inseguranças tristes para preencher o cotidiano. Quero mais que sorrisos inconvincentes e amizades convenientes. Eu quero menos. Menos pensamento, menos medo.

Vamos nos atrasar, deixar o mundo acontecer lá fora enquanto a gente discute bobeiras inexplicáveis. Esqueça a música alta, esqueça as pessoas e seus cumprimentos tediosos, deixa tudo pra lá. Tudo o que a gente precisa está aqui. Tem eu, tem você, tem uma vida inteira de nós dois. E isso é tudo.

quarta-feira, 16 de março de 2011

um post pra você


Porque seus olhos são azuis e dá vontade de mergulhar.

Você fez eu me sentir alguém, exatamente um alguém que eu sou. Acho que isso pode ser um sinal. De fraqueza ou de destino, eu não sei. Existe mesmo essa coisa de destino? Porque os nossos se cruzaram e talvez isso tenha algum significado.

Pode ser a dúvida entre manter a solidão ou se arriscar. Acho que toda essa história tenha se desenvolvido nos segundos em que eu fechei os olhos e não precisei abrir pra saber que você estava lá.

Parecemos mútuos no desejo de viver pra sempre no agora só pela companhia maravilhosa. Talvez fosse a exata sintonia, do exato alinhamento, da exata fração de segundo que motivasse duas presenças tocadas dessa maneira. E se existir um próximo encontro, por mais breve que seja, será só pelo encanto do sorriso mais sincero do meu caminho.

O tempo é relativamente compensado por registrar pequenos momentos em grandes confirmações.

Vem me buscar, me leva pra longe daqui.


Música: Phoenix - Rome

http://www.youtube.com/watch?v=vI3Hplk9Za8&feature=related

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

algo que jamais se esclareceu

Se sua partida é mesmo inevitável, se seus sonhos são mesmo indispensáveis, se sua vida é mesmo impenetrável, então vá. Não permita que eu me apegue e faça planos, não me deixe acreditar no que não há de verdade. Vá logo antes de borrar minha maquiagem e ferir minha coragem, antes que eu acabe com meus instintos de sobrevivência como se não importassem mais meus sentimentos próprios. Não provoque meus medos, não destrua meu equilíbrio. Apenas vá. Não me deixe criar um relacionamento individual onde eu sou todos os personagens e nenhum ao mesmo tempo, enquanto você é a platéia que faz questão de não aplaudir minhas fragilidades teatrais.

Você que preenche minhas lacunas de medo deve ter um longo caminho de volta pro seu ser, enquanto eu sobrevivo de te esquecer daqui a pouco. Se minhas palavras não fazem sentido e confundem sua mente, nem peço lucidez. Eu sei que você gosta de estar entorpecido pra esquecer seus problemas ao invés de resolvê-los. Mas não ignore o que eu sou por não ter forças para me decifrar. Já que dividimos um pavor doentio da alegria, podemos partilhar o pânico de sorrir até que a tristeza não faça mais sentido a dois.

Se sua partida é mesmo inevitável, se seus sonhos são mesmo indispensáveis, se sua vida é mesmo impenetrável, ao menos arrisque me carregar junto de você.


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

se bastasse sentir...

Não me lembro como eu era antes de você.

E agora sou alguém que se apaixonou, e se entrega e morre um pouco todo dia, só pra saber que viveu pelo menos um pouco.

E agora tudo anda pela metade, as alegrias não passam de algumas horas em boa companhia, mas no escuro do quarto não há nada mais que um quarto no escuro.

E agora eu durmo sozinha e tenho um vazio no peito você não tem vontade de ocupar. Tenho um coração pesado que você não quer carregar. E estou cansada de esperar vidas se resolverem por uma promessa de futuro e ficar pra trás mais uma vez.

Só não me deixe morrer em você, porque em mim você vai continuar vivendo.

Quero de volta tudo o que um dia foi meu. Quero pra mim. Pra guardar. Pra ter. Pra ser.