sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

numa cidade distante ...


Precisei atravessar um oceano, abandonar seguranças e certezas, amigos e família.  Deixei para trás emprego, casa, travesseiro, língua, lembranças e passados que não passavam. Deixei meus amores, tantos que me deixaram um buraco. Deixei minhas paixões  tolas, que só me fizeram ver que o buraco era eu.

Aqui nessa cidade gelada, verde e cinza, planta e prédio, tantas pessoas de tantos lugares. Aqui onde posso confundir domingo e quinta-feira e gastar minha meias no chão de casa. Onde as horas são minhas e as escolhas também. São tantas as novidades todos os dias, novos rostos para novos começos. Tantas línguas e culturas. Tanta gente e tanta solidão.

O momento que era de fim se fantasiou de começo e me permitiu começar. A vida me chamou, bagunçou meu mundo, virou minha existência de cabeça para baixo, decapitou minha existência. O fim virou começo. E eu me permiti Recomeçar.

Percebo que não importa tanto o que me aconteceu nesses vinte e cinco anos, mas o que eu estava fazendo com o que eventualmente aconteceu. É uma oportunidade assustadora e maravilhosa. Amadurecer não significa estagnar, mas reafirmar – ou reinventar.

Precisei chegar nessa cidade distante para fazer essa descoberta. Levei vinte e cinco anos para me encontrar como pessoa, e talvez leve mais vinte e cinco para achar que entendi todos os significados disso. Mas aí precisaria de outros vinte e cinco para enfim ver que nada tem explicação, e que o interessante na vida não são as respostas, são os enigmas.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

ano novo

Quando não quero mais ser eu, faço uma tatuagem. Mudo o cabelo, troco de emprego, de amigos, mudo tudo. No fim acabo sobrando de frente pro espelho e sou eu de novo, um pouco mais colorida, um pouco mais solitária, bem menos humana e sociável. Eu me volto pras palavras e venero seus encantos, como se por me descreverem pudessem me bastar. Palavra não faz carinho, palavra não dá colo. É de abraço que eu preciso quando não há mais letra, tatuagem, tinta, papel, caneta, poesia. Quando não tem mais rima, é de corpo e conforto que eu preciso.

O tempo, superestimado, não muda nada. Só faz confundir realidade e passado num borrão sem cor. Eu vivo de acreditar na próxima semana, minhas esperanças estão no próximo mês. Quando me oferecem um próximo ano e contam as horas e os segundos pra que ele chegue, eu só quero me cobrir até os olhos e pedir arrego do mundo. Não me faça encarar toda a responsabilidade de um novo tempo, não posso admitir que cheguei ao fim do prazo sem cumprir com meus planos.

Quero todas as fantasias de dezembro, quero a pureza de acreditar numa vida nova. A leveza de esperar um mundo novo no segundo em que 2012 se torna 2013. Tudo novo, tudo limpo, tudo pronto pra ser diferente. Ar fresco, um alívio ou certa angústia. É tempo de ser mais eu, é tempo de me esquecer, de me perder. É tempo de ter mais tempo.

Se um dia desses eu encontrar o que eu procuro talvez eu não precise de palavras. E então eu serei eu, de frente pro espelho, sem medo de ser quem me olha de volta.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

o que você não vai saber

Não pretendo te contar sobre minhas lutas mentais. Você terá nas mãos minha simplicidade e minha leveza. Não vou ficar falando da complexidade dos meus pensamentos, da minha dualidade ou das minhas dúvidas sobre qualquer sentimento do mundo. Vou te deixar com a melhor parte, porque eu sei que você merece. Guardo pra mim as crises de identidade e a vontade de sumir. Não vou dissertar sobre minha fragilidade e minha insegurança. Ofereço meu bom humor e minha paciência, e você deve saber que esta não é uma oferta comum.

Se você tivesse chegado antes, eu não teria notado. Se demorasse um pouco mais, eu não teria esperado. Você anda acertando muita coisa, mesmo sem perceber. Tem me ganhado nos detalhes e aposto que nem desconfia. Mas já que você chegou no momento certo, vou te pedir que fique. Mesmo que o futuro seja de incertezas, mesmo que não haja nada duradouro prescrito pra gente. É um risco. Eu pulo, se você me der a mão.

Você não precisa saber que eu choro porque me sinto pequena num mundo tão gigante. Nem que eu faço coisas estúpidas quando estou carente. Você não vai saber da minha mania de me expor em palavras, que eu escrevo o tempo todo, em qualquer lugar. Muito menos que eu estou escrevendo sobre você neste exato momento. E não pense que é falta de consideração dividir tanto de mim com outras pessoas e excluir você dessa minha segunda vida. Porque há duas maneiras de saber o que eu não digo sobre mim: lendo nas entrelinhas dos meus textos e olhando nos meus olhos. E a segunda opção só você tem.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

sem porque nem pra que

Dessa vez não vou evitar dizer o que está na minha cabeça só porque eu sei que minha mente vai negar no dia seguinte, não fugirei de palavras bonitas porque quem diz não é uma pessoa perfeita, não arrumarei mil defeitos para brigar contra as novecentos e noventa e nove qualidades, não desviarei meus olhos por medo de ter minha mente lida, não sumirei por medo de desaparecer.

Não vou ferir por medo de machucar, não vou ser chata por medo de você me achar legal, não vou desistir antes de começar, não vou evitar minha excentricidade, não vou me anular por sentir demais e logo depois não sentir nada, não vou me esconder em personagens, não vou contar minha vida inteira em busca de ter uma vida de verdade.

Dessa vez não vou querer tudo de uma vez porque sempre acabo ficando sem nada no final. Estou apostando minhas fichas em você e saiba que eu não sou de fazer isso. Mas estou neste momento frágil que não quer acabar. Fiquei menos cafajeste, menos racional, menos eu. E estou aproveitando pra tentar levar algo adiante.

Relacionamentos que não saem da primeira pagina já me esgotaram, decorei o prefácio e estou pronta pro primeiro capitulo. 

domingo, 29 de julho de 2012

23:00


O tempo não corre, flutua pelos minutos num ritmo enlouquecedor de relógio sádico, como se esperasse meu limite pessoal.

As unhas roídas, a insônia, tédio.

A tv ignorada brilha o reflexo na janela contrastando o escuro que toma o resto do quarto. O frio amortece os pés descalços sob o cobertor e a chuva no vidro briga com o volume da televisão. A tv sem publico, as conversas com o cachorro, tédio.

O psiquiatra diz que não é nada, só tédio.

O tédio que me aguarda em cada espaço vazio do dia. O tédio que me segura em cada momento perdido de ocupação.

São onze horas e o ponteiro do relógio faz questão de me lembrar em cada batida.

Tédio. Cinco letras de angústia. Estado de espírito ou substantivo? Não é nada, só tédio.

terça-feira, 29 de maio de 2012

o que falta

Eu sei que não faz sentido escrever agora e já faz tempo desde que esse sentido sumiu. Por minha culpa. Mas é que hoje tem tanta gente aqui e ninguém me vê. E você me viu num momento desses e é do seu olhar que eu sinto falta. Do mundo parando só pra você ser meu.

Vem me buscar, me leva pra longe daqui. No caminho de lugar nenhum eu te explico sobre minha fuga e os motivos de eu decidir voltar. Eu desisto de desistir de você. Sei que eu não posso querer você só de vez em quando, nem fazer você esperar eu me apaixonar. Só fica mais um pouco. É da sua companhia que eu preciso pra respirar agora.

Não precisa dizer nada. Seu silêncio é meu refúgio e você é minha madrugada fria de outono. Seu sorriso me aquece e nada mais faz sentido sem esses segundos que parecem horas quando estou presa nos seus olhos. Sua voz faz a corrida maluca do meu cérebro parar. Você já não pode ser o que eu quero. Porque você é mais que isso. Você é tudo o que eu queria merecer.

Não quero mais ficar no seu caminho fazendo você tropeçar no passado. Esse não é o papel que eu quero, pode ter certeza. Queria fazer valer seus instantes perdidos me observando numa festa cheia e tentando entender meus enigmas. Eu sou uma decepção. Eu parecia tão interessante, tão cheia de luz.

Não desiste de mim. Por trás de tanta indecisão tem alguém que precisa de companhia mesmo fingindo que não. Tem alguém que odeia todo mundo num segundo e chora de saudades de todos no segundo seguinte. E de você principalmente. 

Desculpa. Eu realmente não queria ser assim pra você.

domingo, 1 de abril de 2012

solidão

Ocupo todos os cantos da cama para deixá-lo fora do meu mundo. É o meu modo de esconder que na verdade eu só queria perder o cobertor para pés maiores que os meus. Dormir sozinha dá aquelas sensação de que o frio existe mesmo quando o termômetro marca 30 graus, de que os travesseiros são insuficientes e o espaço é infinito. Por dentro e por fora.

Ocupo todos os segundos do meu dia pra não deixá-los tomarem posse da solidão que cultivo como companheira. Sou dela, não tem jeito. Sou minha e não sei me dividir. Essa é só a maneira que eu aprendi a ser, porque pertencer aos outros faz doer.

Eu aceitei você e sua carga, sua falta; e nada disso foi suficiente porque você não pode ou não soube me aceitar. Você não pode carregar o que tem aqui dentro, esse peso que eu preciso dividir pra não ficar sobrecarregada por existir. Agora não sei mais. Não consigo aceitar nada pela metade e você não se permite ir além.