segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

ano novo

Quando não quero mais ser eu, faço uma tatuagem. Mudo o cabelo, troco de emprego, de amigos, mudo tudo. No fim acabo sobrando de frente pro espelho e sou eu de novo, um pouco mais colorida, um pouco mais solitária, bem menos humana e sociável. Eu me volto pras palavras e venero seus encantos, como se por me descreverem pudessem me bastar. Palavra não faz carinho, palavra não dá colo. É de abraço que eu preciso quando não há mais letra, tatuagem, tinta, papel, caneta, poesia. Quando não tem mais rima, é de corpo e conforto que eu preciso.

O tempo, superestimado, não muda nada. Só faz confundir realidade e passado num borrão sem cor. Eu vivo de acreditar na próxima semana, minhas esperanças estão no próximo mês. Quando me oferecem um próximo ano e contam as horas e os segundos pra que ele chegue, eu só quero me cobrir até os olhos e pedir arrego do mundo. Não me faça encarar toda a responsabilidade de um novo tempo, não posso admitir que cheguei ao fim do prazo sem cumprir com meus planos.

Quero todas as fantasias de dezembro, quero a pureza de acreditar numa vida nova. A leveza de esperar um mundo novo no segundo em que 2012 se torna 2013. Tudo novo, tudo limpo, tudo pronto pra ser diferente. Ar fresco, um alívio ou certa angústia. É tempo de ser mais eu, é tempo de me esquecer, de me perder. É tempo de ter mais tempo.

Se um dia desses eu encontrar o que eu procuro talvez eu não precise de palavras. E então eu serei eu, de frente pro espelho, sem medo de ser quem me olha de volta.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

o que você não vai saber

Não pretendo te contar sobre minhas lutas mentais. Você terá nas mãos minha simplicidade e minha leveza. Não vou ficar falando da complexidade dos meus pensamentos, da minha dualidade ou das minhas dúvidas sobre qualquer sentimento do mundo. Vou te deixar com a melhor parte, porque eu sei que você merece. Guardo pra mim as crises de identidade e a vontade de sumir. Não vou dissertar sobre minha fragilidade e minha insegurança. Ofereço meu bom humor e minha paciência, e você deve saber que esta não é uma oferta comum.

Se você tivesse chegado antes, eu não teria notado. Se demorasse um pouco mais, eu não teria esperado. Você anda acertando muita coisa, mesmo sem perceber. Tem me ganhado nos detalhes e aposto que nem desconfia. Mas já que você chegou no momento certo, vou te pedir que fique. Mesmo que o futuro seja de incertezas, mesmo que não haja nada duradouro prescrito pra gente. É um risco. Eu pulo, se você me der a mão.

Você não precisa saber que eu choro porque me sinto pequena num mundo tão gigante. Nem que eu faço coisas estúpidas quando estou carente. Você não vai saber da minha mania de me expor em palavras, que eu escrevo o tempo todo, em qualquer lugar. Muito menos que eu estou escrevendo sobre você neste exato momento. E não pense que é falta de consideração dividir tanto de mim com outras pessoas e excluir você dessa minha segunda vida. Porque há duas maneiras de saber o que eu não digo sobre mim: lendo nas entrelinhas dos meus textos e olhando nos meus olhos. E a segunda opção só você tem.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

sem porque nem pra que

Dessa vez não vou evitar dizer o que está na minha cabeça só porque eu sei que minha mente vai negar no dia seguinte, não fugirei de palavras bonitas porque quem diz não é uma pessoa perfeita, não arrumarei mil defeitos para brigar contra as novecentos e noventa e nove qualidades, não desviarei meus olhos por medo de ter minha mente lida, não sumirei por medo de desaparecer.

Não vou ferir por medo de machucar, não vou ser chata por medo de você me achar legal, não vou desistir antes de começar, não vou evitar minha excentricidade, não vou me anular por sentir demais e logo depois não sentir nada, não vou me esconder em personagens, não vou contar minha vida inteira em busca de ter uma vida de verdade.

Dessa vez não vou querer tudo de uma vez porque sempre acabo ficando sem nada no final. Estou apostando minhas fichas em você e saiba que eu não sou de fazer isso. Mas estou neste momento frágil que não quer acabar. Fiquei menos cafajeste, menos racional, menos eu. E estou aproveitando pra tentar levar algo adiante.

Relacionamentos que não saem da primeira pagina já me esgotaram, decorei o prefácio e estou pronta pro primeiro capitulo. 

domingo, 29 de julho de 2012

23:00


O tempo não corre, flutua pelos minutos num ritmo enlouquecedor de relógio sádico, como se esperasse meu limite pessoal.

As unhas roídas, a insônia, tédio.

A tv ignorada brilha o reflexo na janela contrastando o escuro que toma o resto do quarto. O frio amortece os pés descalços sob o cobertor e a chuva no vidro briga com o volume da televisão. A tv sem publico, as conversas com o cachorro, tédio.

O psiquiatra diz que não é nada, só tédio.

O tédio que me aguarda em cada espaço vazio do dia. O tédio que me segura em cada momento perdido de ocupação.

São onze horas e o ponteiro do relógio faz questão de me lembrar em cada batida.

Tédio. Cinco letras de angústia. Estado de espírito ou substantivo? Não é nada, só tédio.

terça-feira, 29 de maio de 2012

o que falta

Eu sei que não faz sentido escrever agora e já faz tempo desde que esse sentido sumiu. Por minha culpa. Mas é que hoje tem tanta gente aqui e ninguém me vê. E você me viu num momento desses e é do seu olhar que eu sinto falta. Do mundo parando só pra você ser meu.

Vem me buscar, me leva pra longe daqui. No caminho de lugar nenhum eu te explico sobre minha fuga e os motivos de eu decidir voltar. Eu desisto de desistir de você. Sei que eu não posso querer você só de vez em quando, nem fazer você esperar eu me apaixonar. Só fica mais um pouco. É da sua companhia que eu preciso pra respirar agora.

Não precisa dizer nada. Seu silêncio é meu refúgio e você é minha madrugada fria de outono. Seu sorriso me aquece e nada mais faz sentido sem esses segundos que parecem horas quando estou presa nos seus olhos. Sua voz faz a corrida maluca do meu cérebro parar. Você já não pode ser o que eu quero. Porque você é mais que isso. Você é tudo o que eu queria merecer.

Não quero mais ficar no seu caminho fazendo você tropeçar no passado. Esse não é o papel que eu quero, pode ter certeza. Queria fazer valer seus instantes perdidos me observando numa festa cheia e tentando entender meus enigmas. Eu sou uma decepção. Eu parecia tão interessante, tão cheia de luz.

Não desiste de mim. Por trás de tanta indecisão tem alguém que precisa de companhia mesmo fingindo que não. Tem alguém que odeia todo mundo num segundo e chora de saudades de todos no segundo seguinte. E de você principalmente. 

Desculpa. Eu realmente não queria ser assim pra você.

domingo, 1 de abril de 2012

solidão

Ocupo todos os cantos da cama para deixá-lo fora do meu mundo. É o meu modo de esconder que na verdade eu só queria perder o cobertor para pés maiores que os meus. Dormir sozinha dá aquelas sensação de que o frio existe mesmo quando o termômetro marca 30 graus, de que os travesseiros são insuficientes e o espaço é infinito. Por dentro e por fora.

Ocupo todos os segundos do meu dia pra não deixá-los tomarem posse da solidão que cultivo como companheira. Sou dela, não tem jeito. Sou minha e não sei me dividir. Essa é só a maneira que eu aprendi a ser, porque pertencer aos outros faz doer.

Eu aceitei você e sua carga, sua falta; e nada disso foi suficiente porque você não pode ou não soube me aceitar. Você não pode carregar o que tem aqui dentro, esse peso que eu preciso dividir pra não ficar sobrecarregada por existir. Agora não sei mais. Não consigo aceitar nada pela metade e você não se permite ir além.

quinta-feira, 8 de março de 2012

exposição

Eu exponho meus sentimentos como numa vitrine, esperando que você aceite pagar o preço que nunca entra em liquidação. Mas quando você vem e quer me levar sem questionar a etiqueta absurda, eu só penso na futura devolução. Quero voltar pros vidros sujos, a exposição sem objetivos, ver todos os produtos indo embora e eu ficando mais uma vez. Esses rostos que me encaram, os olhos que brilham, as ilusões que se formam, as expectativas que eu deixo criarem, são minha vida. Depois disso só resta a rotina e o medo de estar perdendo a melhor parte.

Estou cansada dessa promoção de mim. Cansei de me entregar tanto e nunca me entregar por completo, de ser só a promessa, a vertigem e a decepção. E então esse cansaço que não sei se é dos outros ou de mim mesma.

Estou te mandando um aviso. Bilhete colado na porta da geladeira, telegrama, sinal de fogo, e-mail, não importa. Estou gritando seu nome na areia da praia, do alto da minha insanidade. Vem me salvar. Me leva embora. Prova que não é igual, que a compra não vai ter devolução no primeiro defeito, porque eu sou cheia deles. Me compra, me leva pra casa com tudo o que tem direito. Com medo, com mania, com falar demais e sentir de menos.

Por eu ser cheia de ter certeza de tudo, só quero que você me prove o contrário.


domingo, 12 de fevereiro de 2012

sobre ir embora

Vai até a esquina, mas não solta da minha mão. Foge de mim, mas me busca nesse seu abraço maior que eu. Pode cortar meus assuntos, pode ficar vazio de repente. Eu sei que a culpa é só minha. Provoca minhas inseguranças, de tanto que eu já provoquei as suas. Pega meu ponto mais fraco e torce até sair minha última gota de orgulho. Esfrega bem na minha cara o que eu estou perdendo e o que pode ser que eu nunca mais tenha. O que eu não sei ter. Mostra que eu mereço ficar com um vácuo bem grande dentro de mim por não saber cuidar de uma coisa tão simples e tão pronta. Você não pede mais do que eu posso dar e mesmo assim eu sempre quero mais, quero menos, sempre quero diferente. Você não exige nada de mim, só quer minha existência e eu não sei nem existir pra você. Testa todo seu vocabulário monossilábico comigo. Testa meu limite pessoal, minha paciência, minhas paranóias. Acho que eu ainda não posso ser o que você quer de mim. Eu posso ser essa metade que não encaixa, mas sabe falar por horas e completar frases bobinhas. Só não me deixe morrer em você, porque em mim você vai continuar vivendo. Com seu abraço maior que eu, com suas falas que sempre me deixaram sem ação. Sendo alguém além do que eu sei ter. Não se afogue na tentativa de me deixar pra trás e não confunda me superar com me apagar. Não me apague nem me mate um pouquinho. Esquece o antes e o depois e refaz esse durante que eu gosto tanto. Eu só quero isso. Me conquiste todo dia, e queira me levar no final.

sábado, 28 de janeiro de 2012

perfeição

O mundo me prefere com dois braços e duas pernas, mas não sei mais ser humana. Sorrir cansa. Chorar cansa. Mas o que mais cansa é procurar desesperadamente um intermediário e esquecer que o mundo é mais que aparências.

Eu sou volúvel. Grande surpresa. Mas ser volúvel também cansa. Porque ninguém leva a sério alguém que passa a semana chorando pra ficar bem na semana seguinte. Como se fosse preciso ser feliz pra sempre ou triste pra sempre pra ser alguma coisa de verdade.

Não quero mais a realidade comum. Isso é o que mais cansa, pra ser bem sincera. Tenho até arrepios de pensar num futuro escrito e óbvio nas prateleiras de gente sem sal. Só de saber o que vai ser de mim, já quero ser outra coisa. Uma coisa nova e diferente, pra quebrar o que é certo.

Eu ando tão cansada de seguir as regras. Ando tentando mudar as regras. Eu sei que o que acomoda não é fácil de mudar, mas alguém um dia tem que dizer chega, pra assim as coisas mudarem, o mundo girar. Tanta engrenagem e tão pouco suor.

Acho que vou ter que fazer o que for preciso pra nunca mais precisar fazer nada. E passar o resto da minha vida fingindo que acredito na minha liberdade.


*Música: Adriana Calcanhoto - Senhas

http://www.youtube.com/watch?v=sxJYoHzAIww

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

voltas e voltas em lugar nenhum


Neste exato segundo em que o planeta Terra passeia pelo sistema solar, há uma infinidade de vidas que se iniciam e outra infinidade que chega ao fim. É natural. Talvez chegue um dia em que morrer será a exceção e o mundo atingirá sua lotação. Para isso existe a ciência, a medicina: evitar que a vida chegue ao fim. Viver alcança seu valor máximo. Tanta gente aprendendo a sorrir com conquistas, mas a maioria ensaiando o futuro. Não é o que eu quero. Quero mesmo é o presente. Cansei de me preparar para um dia que pode não chegar. Se existe vida no agora, eu vou encontrar.

Eu tenho essa urgência de viver, essa pressa de qualquer coisa que ultrapasse a inércia. É isso que me faz jogar dados ao acaso e me atirar de carros em movimento, é por isso que ando longe de viadutos. Meu suicídio diário não é uma forma de morrer. É uma tentativa desesperada de encontrar essa vida. É minha necessidade de viver que me mata.

Tenho a impressão de ter atingido o auge da minha maturidade, mas não tenho espaço físico ou moral pra existir nessa condição. Estou pronta pra largar tudo pra trás todos os dias, mas algo finca meus pés no chão sem aviso prévio. É preciso ser coerente pra ser aceito, mas como não me contradizer tentando achar um equilíbrio? Como não ser um pouco louca nesse mundo tão absurdo?

Não adianta me oferecer o discurso de estudos-emprego-família como verdade absoluta. A gente não aprende a viver sentado numa carteira de colégio. Saber organizar informações burocráticas em série e ser programado roboticamente não faz de ninguém um ser humano completo. A vida se aprende nas perdas. É perdendo a liberdade que a gente descobre que não se encaixa, é perdendo alguém que a gente descobre que não vale a pena lutar por futilidades, é perdendo o apoio que a gente descobre que o resto do mundo não para só porque nosso mundo parou. A gente vai aprendendo a viver assim, na marra, no grito, no sufoco, no impulso.

Eu quis mudar o mundo, quis ser brilhante, quis ser reconhecida. Hoje eu quero bem pouco e prefiro me concentrar no agora do que planejar um futuro incerto. Quero me libertar da culpa e dar de cara com algo novo. Não é justo perder as asas no momento em que se descobre tê-las. É preciso poder voar, é preciso ter uma visão estratégica das janelas. Ver o sol e não poder tê-lo é absurdo.

Então eu deixo algumas coisas passarem incompletas porque tenho consciência de que certas palavras ainda não têm tradução. Por mais que eu grite, vai ter quem não entenda ou não aceite. O que eu não aceito é ter nascido num mundo tão grande e conhecer só uma pequena parte .