quinta-feira, 10 de novembro de 2011

atalho


Não me completo porque o que eu quero que seja meu já pertence aos outros, e porque todos já pertencem de alguma forma. Ninguém mais é virgem de alma. Carregam por aí paixões mal resolvidas, soluções mal apaixonadas, são metades vazias que não podem mais completar vida nenhuma.
Às vezes sinto que sou uma espécie de atalho, ajudo no caminho sem ser o ponto de chegada. Não sou destino, apenas distração. E acabo tendo um coração pisoteado que só pensa em se fechar para qualquer sentimento do mundo.

Eu tenho sono e já não consigo mais dormir. Eu tenho ânsia, não consigo mais comer. Eu tenho medo e já não quero mais. Meus pés perderam a função básica de equilibrar meu corpo na minha existência. Não posso dizer que a culpa é física porque fui eu quem sobrecarreguei minha mente e me tornei incapaz de responder sobriamente por um ''tudo bem?''. Isso pesa. É pesado saber que não está nada bem.

Percebo no espelho que meu sorriso não chega aos olhos.


*Música: Los Hermanos - Sapato Novo

terça-feira, 1 de novembro de 2011

não tão trágico

Fala demais, essa menina que não tem o que dizer. Ri demais e não acha graça de nada. Por que o mistério, se ninguém quer saber da sua ideologia barata de gente sem futuro?

Pelo jeito sou só idéias perdidas que se revelam sem me pedir licença e depois se tornam contradições quando amanhece.

Gasto um repertório inteiro de palavras. É como conhecer todo mundo e não conhecer ninguém. Alguém vê atrás disso?

Que venha qualquer coisa fútil alegrar meu figurino, que seja brilhante, que seja inesquecível. Às vezes sou apenas um sopro de qualquer coisa doce e enjoativa com o pior dos venenos, fazendo com que minha presença seja ao mesmo tempo marcante, confusa, passageira e duvidosa.

Parece que ninguém desconfia do que resta pela manhã e talvez seja melhor assim. Uma espécie de proteção, como se essa superficialidade fosse só um rascunho do que um dia vou ter coragem de moldar. E a única dúvida que fica é o que realmente importa.

Talvez essa busca seja o único motivo pra eu ainda deixar as coisas como estão. Me acostumo a ser cenário e quando ganho personagem, acho pedir demais escolher o que interpretar.