Precisei atravessar um oceano,
abandonar seguranças e certezas, amigos e família. Deixei
para trás emprego, casa, travesseiro, língua, lembranças e passados
que não passavam. Deixei meus amores, tantos que me deixaram um
buraco. Deixei minhas paixões tolas, que só me fizeram ver que o
buraco era eu.
Aqui nessa cidade gelada, verde e cinza,
planta e prédio, tantas pessoas de tantos lugares. Aqui onde posso confundir
domingo e quinta-feira e gastar minha meias no chão de casa. Onde as horas são
minhas e as escolhas também. São tantas as novidades todos os dias, novos
rostos para novos começos. Tantas línguas e culturas. Tanta gente e tanta
solidão.
O momento que era de fim se fantasiou de
começo e me permitiu começar. A vida me chamou, bagunçou meu mundo, virou minha
existência de cabeça para baixo, decapitou minha existência. O fim virou
começo. E eu me permiti Recomeçar.
Percebo que não importa tanto o que me
aconteceu nesses vinte e cinco anos, mas o que eu estava fazendo com o que
eventualmente aconteceu. É uma oportunidade assustadora e maravilhosa.
Amadurecer não significa estagnar, mas reafirmar – ou reinventar.
Precisei chegar nessa cidade distante para
fazer essa descoberta. Levei vinte e cinco anos para me encontrar como pessoa,
e talvez leve mais vinte e cinco para achar que entendi todos os significados
disso. Mas aí precisaria de outros vinte e cinco para enfim ver que nada tem
explicação, e que o interessante na vida não são as respostas, são os enigmas.