quarta-feira, 10 de novembro de 2010

I miss you

Sentir falta é diferente de sentir saudades. Sentir saudades é grandioso. Dor enorme que rasga por dentro dias seguidos, horas intermináveis, tempo infinito.

Sentir falta não. Sentir falta é pontual. Sentir falta é dor fina, dor de beliscão com unha, dor de mordida de cachorro. Sentir falta é mais específico. Sente-se falta do abraço ao dormir, das mãos frias, sente-se falta do jeito boboca que ele tinha de andar. Sentir falta é mais egoísta, quase que material. Sentir falta do café dele, da bagunça dele, o chinelo dele. Sentir falta da camiseta velha dele que você podia usar. Sentir falta é pequeno, mas não menos doloroso.

A saudade não te deixa respirar. Não te permite trabalhar, te faz faltar o ar. Saudade é plural. Saudades é dos dois. Saudades é de você mesma, com os olhos brilhando. Saudades do frio na barriga, saudades do começo, saudade daquela cervejada idiota, do melhor dia dos namorados. Por isso, saudade pode ser inventada e falta não.

Falta é daquilo que não está ali, e que deveria estar. É a dor do banco do carro vazio, de assistir filme sozinha. A falta está na rotina, nas pequenas coisas concretas do dia a dia. Ela é pontual, mas pode aparecer todos os dias.

Saudades e sentir falta acontecem apenas quando o objeto da saudade ou da falta, parece estar ali, na beirada da sua vida. Ambas te fazem esticar o braço com força, com toda a sua força, o máximo que pode, para alcançar aquilo que já não está mais ali, que é sombra.

Talvez essas duas dores só sumam de fato quando ele sair da beirada. Quando o desenho do rosto dele não for mais tão nítido na minha memória, quando o som da voz dele não for mais tão claro em meus ouvidos. A saudade e a falta, de formas diferentes, com dores distintas, clamam por aquilo que mais se teme. A única solução possível é a mais temida, e serve para as duas: o esquecimento.